Médio Oriente: Paz impossível, coexistência necessária

por Paulo Giordani

O drama dos reféns israelitas, a catástrofe humanitária que Gaza, em suma, o rio de violência que corre terra Santa esconde mal uma realidade que é evidente para quem observa a situação, sem preconceitos políticos ou religiosos. O que torna esta guerra sem esperança e desesperadora é o facto de nenhuma das partes no conflito tem objetivos estratégicos alcançáveis: Hamas ele não consegue nem imaginar exterminar o Estado Judeu (seria militar e politicamente impossível) e Israel tem apenas um conceito “tático” da sua própria segurança (respondendo golpe por golpe e com a maior dureza, apesar de saber que o Hamas sobreviveria mesmo à destruição completa de Gaza).

A violência tornou-se um ciclo incessante, com ataques e represálias alimentando o ódio mútuo. Os reféns israelitas e os civis de Gaza (“um prisão a céu aberto", como ele definiu Relógio de direitos humanos) são as vítimas inocentes presas neste vórtice. Vivem num estado de medo e incerteza constantes, expostos aos horrores de uma guerra sem saída.
Nunca antes haveria necessidade de construir senão a “paz” (décadas de sangue tornam difícil a verdadeira pacificação) pelo menos um “pacto” que permite a coexistência de dois estados. Nem os terroristas do Hamas nem os extremistas de cujos votos depende a sobrevivência do governo de Netanyahu querem isto. Só a comunidade internacional, e de facto as grandes potências, teriam a autoridade e a força necessárias para impor um cessar-fogo, desarmar grupos terroristas, construir (laboriosamente) uma acordo de convivência.

Infelizmente, mais de trinta anos após o fim da Guerra Fria, o mundo não encontrou uma nova Ordem, pelo contrário, caiu na desordem. A única esperança, mesmo para a Terra Santa, é que ela recupere forças diálogo entre os Estados Unidos e a China (está marcada uma cimeira entre Biden e Xi, à qual os observadores atribuem, com razão, grande importância) e que os vislumbres da diplomacia entre Moscovo e Washington sejam ampliados para pôr fim à guerra na Ucrânia.

Durante a abertura da conferência humanitária sobre Gaza, em Paris, o presidente francês Emmanuel Macron sublinhou a importância de proteger os civis e insistiu que, 33 dias após o início do conflito com o ataque do Hamas a Israel em 7 de Outubro, um cessar-fogo deve ser possível. No papel, todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha) são a favor de uma “pacto” entre os dois Estados: esta é a única perspectiva estratégica que pode dar segurança a Israel e uma verdadeira pátria aos palestinianos.

Paolo Giordani, presidente do Instituto Diplomático Internacional

Médio Oriente: Paz impossível, coexistência necessária

| OPINIÕES |